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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

POR QUE FALAR SOBRE O INFERNO?

Sei que estou pisando num terreno difícil, ao falar sobre esse assunto. As igrejas tradicionais deixaram de acreditar em inferno desde aquela época longínqua em que deixaram de crer na Bíblia. Agora, muitas igrejas evangélicas populares se recusam, até mesmo, a pregar sobre o inferno. Por quê? Porque eles dizem que sermões sobre o fogo do inferno não são acolhedores para os que estão buscando; não são uma boa estratégia de marketing para as igrejas; não fazem amigos e influenciam pessoas. “O inferno e a perdição nunca se fartam...” (Pv 27: 20).
     C. S Lewis disse que nunca encontrou uma pessoa que tivesse uma crença viva no céu, que também não tivesse uma crença viva no inferno. Se não existisse inferno, as escolhas da vida não fariam mais uma diferença infinita. Removendo o inferno, o céu se tornaria insípido, automático e acessível para todos. O drama da vida, geralmente afiado como fio de navalha, tornar- se- ia algo suave e seguro. “... Melhor é que entres na vida com um só olho, do que, tendo dois olhos, sejas lançado no fogo do inferno” (Mt  18: 9).
     Se não existisse um inferno do qual ser salvo, então Jesus não seria nosso Salvador; seria apenas nosso mestre, um profeta um guru ou um modelo de ser humano, e haveria indiferença religiosa. Se a fé em Cristo como Salvador não fosse necessária, deveríamos chamar de volta todos os missionários e pedir desculpas por todos os mártires. Que desgaste de paixão, energia, tempo e vida! Se não existisse fogo, o corpo de bombeiros seria uma inutilidade e um desperdício! “... Mas quem disser: Tolo! Estará sujeito ao fogo do inferno” (Mt 5: 22).
      Se não existisse razão para crermos na detestada doutrina do inferno, também não haveria razão para crermos na doutrina mais amada no cristianismo: a de que Deus é amor. A doutrina amada é a razão que os críticos mais freqüentemente apontam para não crerem na doutrina do inferno. Contudo, as duas doutrinas cristãs se apóiam exatamente sobre o mesmo fundamento. “No inferno, estando em tormentos, ergueu os olhos e viu ao longe a Abrão e Lazaro no seu seio” (Lc 16: 23).
     Alguns ensinam que o inferno não existe, outros, que o inferno é um lugar vazio, e muitos tentam amenizar o horror que é o inferno.
     Quando os discípulos perguntaram: “Senhor, serão poucos os salvos?” (Lc 13: 23) Jesus não respondeu sim, mas “Esforcem- se para entrar pela porta estreita porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13: 24). Contudo, mesmo que Ele tenha descrito os salvos como poucos e os condenados como muitos, devemos lembrar que Jesus não estava falando como um estatístico, mas como o Bom Pastor. O que significa muito para Deus? E pouco? Na parábola da ovelha perdida (Mt 18: 10- 14), o pastor achou que noventa e nove ovelhas seguras e salvas no aprisco era pouco, e foi em busca de uma ovelha perdida, que para Ele representava muito.
      Muitos cristãos interpretam erroneamente os conceitos de muito e de pouco em textos como Lucas 13: 23 24, acham que significa que a maioria das pessoas iria para o inferno. Mas é incorreto tanto dizer que os muitos não- salvos são a maioria como afirmar que ninguém vai para o inferno. Nós simplesmente não sabemos. Jesus se recusa a contar- nos. Em vez de satisfazer nossa curiosidade teórica, ele nos lembra o que precisamos saber e praticar: “Esforcem- se para entrar pela porta estreita” (Lc 13: 24a). “... Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16: 15).
      Se ninguém fosse para o inferno, não teríamos de esforçar- nos. Se temos de esforçar- nos para entrar no céu, aqueles que recusam a esforçar- se não entrarão no céu. A falta de esforço implicará a ida de pessoas para o inferno.
      Sobre a busca do pastor pela ovelha perdida, Jesus disse: “Da mesma forma, o Pai de vocês, que está nos céus, não quer que nenhum destes pequeninos se perca” (Mt 18: 14). A vontade de Deus pode ser contrariada? O fato de não ser vontade de Deus que ninguém pereça não significa que nenhuma pessoa vá perecer. Não é vontade de Deus que pequemos, mas pecamos. Temos livre- arbítrio para escolher.
       Sendo assim, esse texto [Mt 18: 14] não pode ser usado para negar o inferno, mas sim para negar que todos irão para o céu, porque a vontade de Deus é que nenhum se perca, e esta vontade não pode ser contrariada em hipótese alguma; ou que Deus quer que apenas alguns sejam lançados nos inferno.
       Vamos analisar o que Jesus falou sobre Judas: “... Melhor lhe seria não haver nascido” (Mt 26: 24b). Parece indicar que, pelo menos, Judas está no inferno, não no céu. Poderia Judas ser a única e exclusiva exceção da história? A questão não é que alguns sejam mais pecadores do que outros ou que cometeram pecados piores do que Judas, mas que muitos se recusam a arrepender- se, como ele recusou. Um Deus infinitamente amoroso poderia perdoar qualquer pecado se houvesse arrependimento genuíno, mas respeitaria nosso livre- arbítrio de recusar- nos ao arrependimento, se optássemos por isso.
       Além disso, na Bíblia, vemos um pecado que não será perdoado. Jesus disse: “Todos aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado” (Lc 12: 10). Esse texto geralmente é interpretado como a recusa de reconhecer a obra do Espírito de Deus, de arrepender- se e de aceitar o perdão que Deus oferece de graça a todos: “Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação. Ora, quais os que, tendo- a ouvido, o provocaram? Não foram todos os que saíram do Egito por meio de Moisés? E contra quem se indignou por quarenta anos? Não foi contra os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto? E a quem jurou que não entrariam no descanso, senão aos que foram desobedientes? E vemos que não puderam entrar por causa da incredulidade” (Hb 3: 15- 19).
     Se somos livres para escolher o bem ou o mal, a vida ou a morte, o inferno é uma possibilidade real. A Bíblia diz de forma clara que Deus não está “querendo que alguns se percam” (2 Pe 3: 9), mas quer “que todos os homens se salvem” (1 Tm 2: 4).
     Recordo-me dos dias, quando pregadores não censuravam seus sermões, e as congregações eram suficientemente fortes em Cristo para receber a verdade sem diluição.
    “Gostaria que você viesse pregar na minha igreja, mas, por favor, não fale sobre o inferno, pois, temos muitos irmãos que não estão preparados para este assunto”. Isso é muito útil a Satanás. Ele não quer ouvir pregadores dizendo às pessoas para saírem do seu acampamento e entrarem no de Jesus. Satanás não quer ouvir pregadores dizendo às pessoas que, a menos que elas se arrependam e creiam em Jesus Cristo, passarão a eternidade lá, com Satanás e todos os seus demônios. Ele não quer ouvir pregadores alertando as pessoas para escaparem do juízo eterno que está para vir sobre o mundo, nem os quer ouvir falando sobre o lago de fogo preparado para ele e os seus anjos. Portanto, abafar a verdade sobre todas essas coisas, como as igrejas tradicionais estão fazendo, cai como uma luva nos planos do inimigo. Ele não se entristece quando as pessoas riem da idéia de fogo, enxofre e um Diabo real. Quando as pessoas trivializam o inferno e o tratam como uma piada, o inimigo se delicia. Quanto menos pessoas levarem o inferno a sério, mas companhia Satanás deverá ter. “Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai- vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25: 41 ênfase minha).
     O “fogo” do inferno e o tormento do “ardor” do maldito e condenado estão consistentemente ligados à sede: “... manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama” (Lc 16: 22- 24). O sofrimento do inferno não existe pelo desejo de Deus de punir, mas em virtude de seu amor. Ele ama tanto o homem que o fez eternamente capaz de conhecê- lo e de habitar com Ele para sempre. Em seu amor, Ele formou o homem para que sua comunhão com Deus não seja uma mera opção e, portanto, pouco satisfatória. Não, isso é vital para sua existência real e, por conseguinte, traz infinito prazer e satisfação.
     No momento em que nós recusamos a viver uma vida sem seu propósito, não desejando conhecê- lo. Poderíamos compara- lo como um homem no deserto do Saara que, de manhã cedo, se recusa a beber a água que lhe é oferecida; porém, no calor do dia, esta morrendo pela falta da água anteriormente desprezada. “Os pobres e necessitados buscam água, mas não há; a sua língua se seca de sede” (Is 41: 17).
     A Bíblia faz uma conexão entre a separação da vida e comunhão com Deus e a sede que arde, fornecendo uma metáfora que nos dá uma medida que ajuda a compreender como serão o céu e o inferno. Percebemos que o sofrimento no inferno será tão doloroso pela mesma razão que o céu será tão intensamente jubiloso. Esse é o caminho com a sede insaciável ou satisfeita. “Como água fria para a alma cansada, tais são as boas novas de terra remota” (Pv 25: 25).
     É fácil entender que a pessoa que está morrendo de sede arda em tormento pela mesma razão que beber água fresca sacia a sede, algo que dá uma sensação boa e agradável. Nossa percepção torna- se mais clara quando lembramos que a sede queima e atormenta e que, ao saciá- La, reconforta e alegra, pois a água é absolutamente essencial para a vida. Da mesma maneira, o inferno será percebido como tão ruim quanto o céu, como tão bom, pois a intimidade e plenitude da presença e do amor de Deus é essencial para a nossa vida espiritual como a água para nossa vida física. “E quem der a beber ainda que seja um copo d` água fria a um destes pequeninos, por serem meus discípulos, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão” (Mt 10: 42).
      Aqueles que vão para o inferno, e que Deus nunca pretendeu que fossem separados, queimarão com sede insaciável pelo amor de Deus em conseqüência pelo que fizeram. Para aqueles que estão no inferno, não há absolutamente como saciar essa sede espiritual e moral, pois, por escolha própria, eles se separam de Deus por toda a eternidade, pois, não atentaram eles que Jesus sentiu a nossa sede: “... Tenho sede!” (Jo 19: 28b).    
      Certa vez, C.S, Lewis disse que não existem relacionamento interpessoais lá. É um lugar confinamento solitário. Uma vez lá, todos os sentimentos de ligação, amizade e amor estarão perdidos para sempre.  
     Aqueles que dizem ser o céu um estado de espírito, em geral, dizem a mesma mentira sobre o inferno. O céu, dizem eles, é uma idéia abstrata, um devaneio, uma figura retórica, o inferno é um lugar de “reunir a galera” para tomar uma cerveja, servido por mulheres seminuas.
      C. S. Lewis esclarece melhor o ponto: Embora nosso Senhor fale repetidas vezes do inferno como sentença infligida por um tribunal, Ele também diz em outro lugar que o julgamento consiste no próprio fato de que os homens preferem as trevas à luz, e que não Ele, mas Sua palavra julga os homens (Jo 3: 19; 12: 48).
      Estamos, pois, em liberdade, já que as suas concepções, no final das contas, significam a mesma coisa... Pensar na perdição desse homem mau não como uma sentença imposta a ele, mas como simples fato de ser ele o que é. A característica das almas perdidas é sua rejeição de tudo que simplesmente elas mesmas não são.  Nosso egoísta imaginário tentou transformar tudo  que ele encontrava em um ramo ou prolongamento do eu. O gosto pelo outro, ou seja, a própria capacidade de usufruir o bem, é apagado nele, exceto na medida em que seu corpo ainda o impele a algum contato rudimentar com um mundo exterior. A morte elimina esse último contato. Ele satisfaz seu desejo... Permanecer inteiramente no eu e tirar o melhor proveito que lá encontra. E o que lá encontra é o inferno. (Lewis. O Problema do Sofrimento, cap. 8, Inferno).
        Na famosa pintura de Jesus com uma lâmpada batendo à porta (à alma), não existe maçaneta do lado de fora da porta. Apenas do lado de dentro é a porta da alma pode ser aberta livremente para a bondade, a verdade e a alegria. E apenas por dentro é que ela pode ser trancada. Se trancarmos essa porta, nossa loucura e nosso crime são os próprios castigos. “Eis que estou à porta, e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Ap  3; 20). Espero que esta porta esteja aberta em sua vida. Pastor Elias Fortes.

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